Para mim, escrever teatro é entender a unidade de espaço e de tempo do ponto e vista do momento e do sítio em que estou a escrever. Então a encenação é o confronto entre o tempo da cena e o tempo da escrita. Por isso, aquilo que escrevo acaba por ser quase sempre uma tentativa de ver e entender o outro tal como é, apesar deste problema de simultaneadade.
Escreve para a cena e para o papel, traduz e dá aulas de dramaturgia na licenciatura de Teatro na Escola Superior de Artes e Design e aulas de Ficção Breve na pós-graduação em Artes da Escrita na FCSH da Universidade Nova. Tem o título de Especialista em Artes do Espectáculo e é mestrando no programa em Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Trabalhou em teatro com Bruno Bravo, Jorge Silva Melo, Gonçalo Waddington, António Simão, Tiago Rodrigues, Gonçalo Amorim, Teresa Sobral, Raquel Castro, Pedro Gil, Lígia Soares, Tonan Quito entre outros. Alguns dos seus textos estão publicados na colecção Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos, na editora Ambar, na Douda Correria, na Mariposa Azual, na Culturgest, na Primeiros Sintomas, e nas revistas Artistas Unidos, Fatal e Blimunda. Traduziu Samuel Beckett, Harold Pinter, Ali Smith, William Maxwell, Joyce Carol Oates, Salman Rushdie, Senel Paz, entre outros.
Ganhou uma Menção Honrosa em 2005 pela actividade de dramaturgo pela Associação de Críticos de Teatro e o prémio SPA 2017 para melhor Texto Português representado com Se Eu Vivesse Tu Morrias. Foi nomeado no mesmo prémio e no mesmo ano com o espectáculo Terreno Selvagem.
Se eu vivesse tu morrias
Este trabalho tem o carácter de um ensaio – como no contexto académico – uma tentativa, uma investigação; trata-se da exploração de um dos limites do teatro: o texto. O texto está disponível ao mesmo tempo que a sua representação; os espectadores poderão alternar entre a leitura e a visão do espectáculo. Interessa neste projeto esse intervalo particular, entre ver e ler. Embora ler seja simultaneamente ver, a leitura representa uma espécie de cegueira – só se lê se não se virem as letras, as palavras, as frases, o texto; só se acede ao significado se se descartar a forma. Este projeto acontecerá precisamente nesse intervalo: entre ler e ver, entre o livro e o palco, na intermitência da atenção do espectador, entre o levantar e o baixar da cabeça, num movimento de gola. Dir-se-ia então, que este projeto serve para investigar a visibilidade do texto teatral, inclusive as didascálias – esse texto afónico que coreografa tudo o que se vê num palco.