Joana Craveiro

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Em 2001, quando fundei o Teatro do Vestido, fi-lo com a consciência de que queria escrever os textos que iria levar à cena. Ou seja, há uma relação directa entre a escrita que faço para teatro e a sua encenação. Lembro-me que procurávamos não ser lineares nas histórias que contávamos nem na forma de as contar. Movia-nos um ímpeto poético e uma relação directa com a cena, para a qual escrevíamos (e isto ainda que à cena não correspondesse necessariamente um palco, uma vez que a maioria dos nossos projectos tinha lugar… fora daquilo a que convencionalmente se chamaria ‘cena’, em ruas, em alas de um hospital psiquiátrico, em casas privadas, em fábricas abandonadas, só para citar alguns desses locais). Em 2019, move-me a mesma vontade de pensar o teatro numa estreia relação com textos que são poéticos e suficientemente complexos para com eles construir partituras cénicas em camadas e em profundidade. É difícil descrever o que tento fazer com a minha escrita. Partir da realidade e desta ideia de que a realidade é um verdadeiro repositório de histórias, imagens, memórias. Partir de nós, da nossa relação com essa realidade e com os materiais e pontos de partida de cada obra. Fazer a síntese disso. Entre o que vemos e o que somos, entre o que ouvimos os outros contar e o como isso ressoa connosco. Situo a escrita que faço para teatro nesse lugar entre.

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Encenadora, actriz, dramaturga. Fundadora (em 2001) e directora artística do Teatro do Vestido onde dirigiu e escreveu mais de 30 criações.

Doutorada pela Roehampton University, no departamento de teatro e estudos performativos, com a tese-espectáculo Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas (prémio do público do Festival de Teatro de Almada 2015/ Nomeado para melhor espectáculo SPA/2015). Mestrado em Encenação pela Royal Scottish Academy of Music and Drama; Licenciada em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa; formação como actriz pela Escola Superior de Teatro e Cinema (antigo Conservatório Nacional).

Aprofundou os seus processos colaborativos com os Goat Island e os Every House has a Door, na School of the Art Institute of Chicago. Aprendeu sobre o devising – que já fazia, mas a que não dava esse nome – com Alexander Kelly, dos Third Angel, no Programa Gulbenkian de Criatividade e Criação Artística. Foi também aí que consolidou o seu trabalho autobiográfico.

A relação entre os acontecimentos históricos e as suas representações no presente, bem como a recolha de memórias e histórias de vidas, e as cartografias poéticas e afectivas das cidades são algumas das questões a partir das quais tem trabalhado e investigado. Publicou diversos artigos sobre história oral e performance.

Tem editados os seguintes textos de teatro: Margem (2019), Atalhos ou o caminho mais longo entre dois pontos (2017); até comprava o teu amor, mas não sei em que moeda se faz essa transacção (2016). Recentemente, foi editado o livro antológico Teatro do Vestido – Um dicionário, em colaboração com o Teatro Nacional D. Maria II, para o qual contribuiu.

É professora adjunta no departamento de Teatro da Escola Superior de Artes e Design, das Caldas da Rainha (ESAD.CR), e investigadora associada do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC/Nova). É artista residente do Teatro Viriato para o quadriénio 2018-22.

Em Março de 2012, recebeu juntamente com o Teatro do Vestido a Menção Honrosa da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro por “uma actividade aberta a todas as formas de arte, atenta a todos os cidadãos e curiosa de tudo o que se passa no mundo em que as pessoas vivem.”

Viajantes Solitários

Viajantes Solitários  é um texto sobre camionistas, escrito a partir de uma recolha de histórias vida, reais, de motoristas de camiões, realizada no Verão de 2015 na região de Viseu, no norte de Portugal. A partir desse rico material, Viajantes Solitários – escrito para ter lugar dentro de um camião – atravessa os temas mais recorrentes nas vidas destes homens– a solidão, o medo, o tédio, a casa ou a sua ausência, a permanente viagem, ao mesmo tempo que sublinhando aspectos particulares de diversas histórias. É uma peça eminentemente sobre homens, porque não havia mulheres disponíveis para serem entrevistadas aquando da recolha de histórias.

O que pensam estes homens durante todos aqueles quilómetros? – esta foi a inquietação primeira que me levou a conversar com eles durante muitas horas.

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